A queda da capital do Afeganistão, Cabul, e a consequente tentativa de fuga em massa da população e das forças de ocupação produziram cenas de horror.
Milhares de afegãos desesperados invadiram o aeroporto de Cabul. Tentaram embarcar em aviões civis que não decolaram e tentaram parar aviões militares em que não conseguiram embarcar.
Centenas cercaram um cargueiro militar americano, muitos se agarraram onde conseguiram do lado de fora. O avião decolou. Imagens das redes sociais mostram o que seriam corpos despencando enquanto a aeronave ganhava altura.
A agência de notícias Associated Press afirmou que falou com militares americanos em Cabul e que eles confirmaram que pelo menos sete pessoas morreram no aeroporto, algumas delas após despencarem do avião.
O caos generalizado paralisou as decolagens e os pousos. O primeiro avião alemão que buscaria cidadãos do país teve que ser desviado para o Uzbequistão. Nem os militares americanos enviados ao Afeganistão para reforçar a segurança do aeroporto conseguiram desembarcar.
O aeroporto internacional virou o último reduto não dominado pelo Talibã no Afeganistão. A embaixada americana foi esvaziada e abandonada. Os últimos diplomatas foram retirados de helicóptero.
As imagens fizeram os Estados Unidos, nesta segunda-feira (16), relembrarem o fim de outra guerra: a do Vietnã.
Em 1975, as tropas do Vietnã do Norte avançaram sobre a capital do Vietnã do Sul, Saigon. Os últimos americanos no país se viram cercados na embaixada e foram retirados em helicópteros.
Milhares de vietnamitas desesperadamente, e muitos em vão, tentavam também sair da cidade nas aeronaves americanas, e as imagens marcaram a queda de Saigon e a derrota americana no Vietnã.
Agora, pessoas penduradas em aviões já marcaram o fim da presença americana no Afeganistão.
Em julho, o presidente Joe Biden foi questionado exatamente sobre se a saída do Afeganistão teria alguma semelhança com a retirada do Vietnã, e respondeu:
“Nenhuma. Zero. Em nenhuma circunstância você vai ver pessoas sendo resgatadas do telhado da embaixada americana no Afeganistão. Não tem como comparar.”
Nesta segunda, Joe Biden fez um novo pronunciamento sobre o Afeganistão. Disse que o objetivo dos EUA nunca foi construir uma democracia no país, mas derrotar os terroristas responsáveis pelos ataques de 11 de setembro e garantir que a Al-Qaeda não pudesse novamente usar o Afeganistão como base para atacar os Estados Unidos.
O presidente disse que isso foi feito, e lembrou que os EUA mataram Osama Bin Laden uma década atrás.
Biden afirmou que tinha duas alternativas: seguir o tratado assinado pelo ex-presidente Donald Trump de retirada do país ou recomeçar uma guerra e entrar numa terceira década de conflito.
Biden ainda afirmou que os EUA investiram US$ 1 trilhão no Afeganistão. Treinaram e equiparam um exército com 300 mil integrantes, maior do que o de alguns aliados americanos na Aliança Militar do Ocidente, mas que não é possível combater numa guerra em que os próprios afegãos não querem lutar.
O presidente voltou a alertar o Talibã: “Se atacarem americanos ou interferirem na nossa operação, nossa resposta será devastadora.”
A missão militar dos Estados Unidos no Afeganistão agora é tirar do aeroporto diplomatas, cidadãos, militares e também civis afegãos que apoiaram e trabalharam com os americanos e agora buscam asilo para escapar do Talibã.
É uma operação que deve durar dias. O governo não informou ainda quantas pessoas estão sitiadas no aeroporto, que voltou durante a noite a ter pousos e decolagens.
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu nesta segunda em Nova York. Os embaixadores de diversos países expressaram preocupação com violações dos Direitos Humanos no Afeganistão. A embaixadora americana na ONU disse que todos os estrangeiros, e também afegãos, que quiserem deixar o país têm que ter o direito de fazer isso.
Linda Thomas-Greenfield prometeu que os Estados Unidos serão generosos ao acolher refugiados, mas ainda não há um plano de como essas pessoas, que trabalharam para as tropas americanas, vão poder pedir asilo num país onde nem embaixada mais os EUA têm.
Já o embaixador da Rússia na ONU apresentou uma visão diferente sobre o que acontece no Afeganistão hoje. Disse que não há razão para pânico, porque o banho de sangue foi evitado e que a comunidade internacional deve trabalhar para alcançar um desfecho pacífico que permita uma reconciliação nacional no Afeganistão.
Rússia, China e Paquistão vinham negociando um acordo de paz entre o Talibã e o governo afegão.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que já há relatos arrepiantes de abusos de Direitos Humanos em todo o Afeganistão e que está particularmente preocupado com a situação das mulheres e meninas.
“Não podemos abandonar o povo afegão”, afirmou.
Por: G1