O medo é uma emoção inata ao ser humano. Ele é necessário para nos sinalizar qualquer perigo que possa colocar em risco a vida. Ao mesmo tempo ele nos motiva a fazer algo para escapar de uma ameaça ou enfrentá-la.
Somente nós mesmos temos o poder de responder adequadamente pelo que fazemos com nossa vontade. A direção que damos à nossa vida é de autoria própria e exclusiva. E é exatamente essa necessidade de respondermos por nós mesmos que nos impõe o dever de lidar adequadamente com o medo, pânico ou fobia. Para tanto, cabe-nos ser realistas a respeito dos nossos sentimentos para sabermos como regulá-los. Isso não é fácil! Como confessou uma senhora após um tempo de autoconhecimento: “Estava muito ansiosa com meu estado emocional. Cheguei à conclusão de que ele vem da minha raiva de ‘fulana’. Aí deixei a raiva vir. Falei para mim mesma o que sentia. Foi um alívio, fiquei leve”.
Neste exemplo, podemos aprender com alguém que não precisou agredir nem atacar quem a feriu para lidar com sua emoção. Aprendemos também que não importa o sentimento negativo que carregamos, teremos que nos familiarizar com ele para dimensioná-lo a fim de assumirmos o direcionamento que almejamos. No caso do medo, quando não o administramos corretamente, nós o exageramos e criamos a ansiedade: um estado generalizado de apreensão.
Estado que evolui para um pico que é o ataque de pânico com curta duração. Depois temos a fobia, o medo exagerado de vários objetos, animais ou situações específicas. Contudo, a fobia nos ajuda a lidar com nossos temores reduzindo-os a objetos ou situações únicas. Ela simplifica nossos temores, mas o problema se agrava porque o perigo atribuído a cada caso é fora de proporção, exagerado a ponto de limitar completamente a vida. Além de tornar o mundo um lugar perigoso, todo ser humano é visto como desonesto e viver se torna uma carga dolorosa.
A pessoa fóbica
A pessoa fóbica faz uma superinterpretação do perigo inerente ao estímulo que ela percebe como ameaçador. Pode ser um elevador, uma cobra, uma mosca, altura, avião. A variedade é grande: qualquer objeto, ser e situação pode ser temido.
As fobias, expressas por palavras gregas, apresentam os seguintes significados: claustrofobia: medo de lugar fechado; agorafobia: medo de lugares abertos; misofobia: medo de germes; escorofobia: medo de ser encarado pelos outros; hafefobia: medo de ser tocado e assim por diante.
Como se pode notar, a fobia é uma tendência a agir respondendo com medo exagerado a uma situação. Como é uma resposta persistente e irracional torna a adaptação do indivíduo ao ambiente muito sofrida porque contribui para impedi-lo de sair de casa, usar transporte público, entrar no elevador, atravessar um túnel, relacionar-se com desconhecidos. É uma forma de prisão ou armadilha adquirida ao longo da existência.
Mas o fóbico desconhece as causas da sua fobia, ou seja, a fobia não é fruto de uma escolha consciente. Antes, é muito mais uma forma de adaptação que a pessoa acolhe para se proteger exageradamente. Ela pode surgir também pela consequência de traumas sofridos, deixando uma hipersensibilidade que não suporta nenhum desconforto.
Razões para o desconhecimento das fobias
1. A fobia teve sua origem antes dos dez anos de idade – ocasião em que a criança passou por uma vivência de medo intenso.
2. O indivíduo é incapaz de se lembrar da vivência original. Só consegue com ajuda especializada.
3. Na maioria dos casos há uma sensação vaga de culpa e vergonha associada à ocasião da vivência.
4. Houve uma generalização do objeto fóbico para muitos outros objetos, assumindo uma variedade grande de situações, coisas e animais temidos.
5. Uma pessoa ajudada profissionalmente pode se lembrar da vivência do objeto original e se recuperar. Mas alguns acreditam que após um tempo possa haver melhora ao acaso. Isso pode ocorrer se o fóbico tentar se lembrar do que passou, falar abertamente o que sente, permitir a dor sem medo de morrer ou de enlouquecer, e assimilar a situação com mais realismo.
Fonte: Thomas Young, Motivation and Emotion, p. 576
É preciso ser honesto
Um dos nossos grandes inimigos é a própria consciência, que não vai nos deixar em paz enquanto não formos honestos com nossos sentimentos, principalmente a culpa, a vergonha, a raiva e a tristeza.
É preciso parar de arrumar desculpas para lidarmos com a realidade de nossas emoções e com as distorções que fazemos delas. Se insistirmos nisso viveremos num estado neurótico cheio de conflitos e dúvidas constantes.
Tentar lembrar o fóbico ou ansioso de que ele mesmo possa estar contribuindo para seu estado cria nele raiva e negação. Ele reage mal porque avalia como acusação, crítica e atribuição de culpa por algo que desconhece. Mas se ele não reconhece sua contribuição, ao exagerar na interpretação do perigo, dificilmente vai melhorar.
A pessoa não é culpada moralmente pela sua situação, mas é responsável no sentido de responder por seu cuidado pessoal. Nenhuma outra pessoa pode responder pelo modo como nós lidamos com nossos sentimentos. É para isso que somos livres, mas responsáveis. Nossa autonomia nos impõe a necessidade do cuidado pessoal. Cresçamos nessa tarefa com menos fobias!